Shock cardiogénico ou sufoco de saudade?

Sentes-te bem?-perguntei pegando-lhe nos ombros.Olhou-me, abrindo melhor os olhos castanhos.
És mesmo tu? Passou tanto tempo desde aquela manhã.Lembras-te?
Lembro sim, e simulou um leve sorriso.Levou a frágil mão ao peito.
Um estado patológico de coração danificado por insuficiente bombeamento, confunde-se com o seu .Puro engano.O transtorno cardíaco foi o acumular de anos de sofrimento.Amou desde que se lembra capaz de o assumir, a mesma mulher.Anos.Muitos. Perdeu-a sem a ter tido.Morreu estupidamente de acidente dias antes do divórcio. A vida trocou-lhe as voltas.Tirou-lhe a razão.Parece uma sombra do homem que foi.O peito dói-lhe.Mas do Amor que não lhe chegou a dar.Semblante amargo de renúncia de vida.Tentativa de diagnóstico de ponto final.

Só precisa de tempo num luto prolongado.Renascerá com dôces lembranças.As dos momentos cúmplices de amantes fugidíos.O Sol iluminou-lhe o rosto e secou-lhe as lágrimas que lhe descobri nos olhos castanhos.