Outono primaveril
Meteu umas roupas no saco, pegou nas chaves do carro e rumou a sul.O destino era a casa fechada todo o ano e raramente arejada por algum amigo.Assim o tinha decidido porque lhe parecera bem uns dias de pé molhado nas areias da sua praia preferida.
Abasteceu na gasolineira já no caminho, bebeu um café.Tocou o telemóvel.Um amigo a querer saber o paradeiro e a dar a saber o seu. Algures num hotel de turismo rural no Alentejo. Depois de uns minutos de conversa, voltou ao carro e meteu-se na estrada. Curioso, do pouco tempo que permanecia por cá, nunca teria pensado fazer um fim-de-semana por terras alentejanas em turismo de habitação. Ela até gostava da gastronomia, da paisagem, dos doces dessa zona do país. Sorriu e saiu da auto-estrada.Afinal estava perto.
Com a ajuda da palavra, de mapa e de algum sentido de orientação, lá encontrou o hotel.E claro o carro do amigo a fazer número em matrícula portuguesa a rondar os dez.Os outros vinte e tal eram espanhóis, e mais uns estrangeiros. Sorriu. A invasão castelhana.
Na recepção disseram-lhe que estavam quase lotados e deram-lhe a chave do quarto.Reparou no ar de importância do individuo ao seu lado, quando a funcionária se referiu à sua pessoa como o dr.qualquer coisa.Ali em pleno Alentejo também se rega gota-a-gota a vaidade dos títulos.Olhando-a, ninguem saberia qual a sua profissão, nem os riscos que corria, nem os passos que dava no mundo.Só a poderiam qualificar quanto ao porte, fisionomia, e algo mais que deixasse transparecer do seu Eu.E assim deveria ser com qualquer dos mortais.Mas isso já ela sabia, os lusos e o faz-de-conta das aparências.Por isso estacionou o carro o mais longe da entrada.Gostava de ser reconhecida sim, por si, pelas capacidades, pela teimosia com que travava as suas lutas e pela simpatia que sabia abrir-lhe muitas portas.O resto, eram só euros transformados em bens materiais.
Depois de se instalar, deu uma volta pelas instalações e pelos espaços envolventes. Sorriu mais uma vez. As piscinas. Ela e aquela péssima mania das partidas aos amigos.
Do amigo, nem sinal.Sentou-se debaixo da pérgola, num banco corrido de madeira a olhar a vastidão que se vislumbrava.Alentejo no seu melhor.O verde nos seus matizes de Outono.O Sol estava quente.Livrou-se de roupa, ficou de t-shirt.Hoje estava de jeans.Esperou.Sabia que pouco tempo demoraria a surpresa.
Atendeu o telemóvel .Era ele.Ouviu-lhe a voz a mostrar alguma admiração.Tinha-lhe deixado recado na recepção."Procura-me", dizia o bilhete.Levantou-se e dirigiu-se mais perto da entrada.Viu-o passar apressadamente. Saiu e olhou o estacionamento .Voltou-se e viu-a.
Abraçaram-se.Ele nem queria acreditar que lhe tinha mudado os planos, a ela , que sempre define bem as suas intenções.Estaria a mudar?
Logo se estabeleceu uma animação já conhecida entre os dois.Planos de almoço,jantar, descobertas.
Teriam sido as caminhadas pelos prados verdes de trigo ainda raso, as rãs nos charcos, os riachos trasportando a água das últimas chuvadas, os pássaros no seu esconde-esconde, o talvez -sim, talvez -não de cogumelos comestiveis, o calor de um Outono a parecer primavera, o cozido de grão, os espargos salteados, a encharcada salpicada de canela, o lacão, a caça, o pequeno-almoço com pão grosseiro quente a derreter a manteiga com compotas e doces feitos por gentes da zona, o pão-de-ló , o queijo daqui e de acolá, sábiamente colocado ao lado de um doce de abóbora, que a fizeram pensar que talvez conseguisse parar e viver uma vida dita mais normal ?
Ao fim de três fantásticos dias de calma oferecida pelo Alentejo, a pergunta persiste.
Ela sorri ...
Abasteceu na gasolineira já no caminho, bebeu um café.Tocou o telemóvel.Um amigo a querer saber o paradeiro e a dar a saber o seu. Algures num hotel de turismo rural no Alentejo. Depois de uns minutos de conversa, voltou ao carro e meteu-se na estrada. Curioso, do pouco tempo que permanecia por cá, nunca teria pensado fazer um fim-de-semana por terras alentejanas em turismo de habitação. Ela até gostava da gastronomia, da paisagem, dos doces dessa zona do país. Sorriu e saiu da auto-estrada.Afinal estava perto.
Com a ajuda da palavra, de mapa e de algum sentido de orientação, lá encontrou o hotel.E claro o carro do amigo a fazer número em matrícula portuguesa a rondar os dez.Os outros vinte e tal eram espanhóis, e mais uns estrangeiros. Sorriu. A invasão castelhana.
Na recepção disseram-lhe que estavam quase lotados e deram-lhe a chave do quarto.Reparou no ar de importância do individuo ao seu lado, quando a funcionária se referiu à sua pessoa como o dr.qualquer coisa.Ali em pleno Alentejo também se rega gota-a-gota a vaidade dos títulos.Olhando-a, ninguem saberia qual a sua profissão, nem os riscos que corria, nem os passos que dava no mundo.Só a poderiam qualificar quanto ao porte, fisionomia, e algo mais que deixasse transparecer do seu Eu.E assim deveria ser com qualquer dos mortais.Mas isso já ela sabia, os lusos e o faz-de-conta das aparências.Por isso estacionou o carro o mais longe da entrada.Gostava de ser reconhecida sim, por si, pelas capacidades, pela teimosia com que travava as suas lutas e pela simpatia que sabia abrir-lhe muitas portas.O resto, eram só euros transformados em bens materiais.
Depois de se instalar, deu uma volta pelas instalações e pelos espaços envolventes. Sorriu mais uma vez. As piscinas. Ela e aquela péssima mania das partidas aos amigos.
Do amigo, nem sinal.Sentou-se debaixo da pérgola, num banco corrido de madeira a olhar a vastidão que se vislumbrava.Alentejo no seu melhor.O verde nos seus matizes de Outono.O Sol estava quente.Livrou-se de roupa, ficou de t-shirt.Hoje estava de jeans.Esperou.Sabia que pouco tempo demoraria a surpresa.
Atendeu o telemóvel .Era ele.Ouviu-lhe a voz a mostrar alguma admiração.Tinha-lhe deixado recado na recepção."Procura-me", dizia o bilhete.Levantou-se e dirigiu-se mais perto da entrada.Viu-o passar apressadamente. Saiu e olhou o estacionamento .Voltou-se e viu-a.
Abraçaram-se.Ele nem queria acreditar que lhe tinha mudado os planos, a ela , que sempre define bem as suas intenções.Estaria a mudar?
Logo se estabeleceu uma animação já conhecida entre os dois.Planos de almoço,jantar, descobertas.
Teriam sido as caminhadas pelos prados verdes de trigo ainda raso, as rãs nos charcos, os riachos trasportando a água das últimas chuvadas, os pássaros no seu esconde-esconde, o talvez -sim, talvez -não de cogumelos comestiveis, o calor de um Outono a parecer primavera, o cozido de grão, os espargos salteados, a encharcada salpicada de canela, o lacão, a caça, o pequeno-almoço com pão grosseiro quente a derreter a manteiga com compotas e doces feitos por gentes da zona, o pão-de-ló , o queijo daqui e de acolá, sábiamente colocado ao lado de um doce de abóbora, que a fizeram pensar que talvez conseguisse parar e viver uma vida dita mais normal ?
Ao fim de três fantásticos dias de calma oferecida pelo Alentejo, a pergunta persiste.
Ela sorri ...
6 Comments:
calculei :)
Calculaste?
Mas essa palavra é minha...calculei
Bonita prosa... consegues que a pessoa não se intimide pelo tamanho e leia até ao fim.
Voltarei, sem precisar de dar explicações. ;)
Ui...
Ando a encontrar o meu querido Alentejo espalhado por vários blogs...
Bate-me a saudade da planicie...a calma do céu a beijar a terra ali mesmo aos nossos pés...
Gostei das tuas palavras...!
Levo o cheiro da planicie alentejana entranhada no pensamento...
(Saudade!)
Cheers
era mesmo o que eu precisava, uma escapadela em terras alentejanas e uma boa companhia.
Adorei o texto
E ao fim de 15 dias de férias que sempre passo nos Alentejo's, fico rejuvenescido para o ano inteiro.
Lindo post.
Fez-me lembrar o Viagens na minha Terra do Garrett, versão moderna e alentejana.
Bjos daqui
Eugénio
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