Memórias de Um Sorriso Luso ®: August 2007

Exercise program

Ficar em casa a remoer palavras que nos foram ditas talvez num impulso impensado,ou talvez com muita razão, não nos leva à melhor decisão a tomar quanto à pessoa que nos fez esse favor de nos pintar o negro quadro da nossa existência.
Uma ida à praia é bem mais compensador.Faz-se exercicio fisico e exercita-se a imaginação...

Esta sou eu...

Saí da auto-estrada.Fiz um desvio para almoçar, porque as crianças mudam-nos os hábitos.
Estou sentada na zona onde posso aceder à minha escrita, enquanto eles almoçam.Não tenho fome.
Estou magoada.Triste.Pela primeira vez na vida sinto-me um estorvo para os outros, uma má influência.Uma má pessoa.Por vezes ouvirmos a verdade dói.Dói muito.Sentimos que talvez os outros, os que nos querem bem, que nos abraçam com felicidade, que nos elogiam,que nos olham com ternura, talvez nos mintam, ou nos omitam a verdade.Que somos um péssimo ser humano.

Estou em introspecção.Ponto por ponto, facto por facto, passo-os como um filme.Tento ver onde errei, onde consigo ser cruel ao magoar os outros.De facto pensei sempre que me podia orgulhar de ser quem sou.Parece que me enganei...

Desabafo.Palavras de pensamentos que me atormentam.Não pareço eu a falar,mas estou assim.
Desolada.Magoada.Desiludida.

Este espaço tem os dias contados...

Sonho, realidade ?

Pegou-lhe na mão, puxou-a para si, encostou-a ao peito.Sentiu-a.Tremia.Beijou-a ali, no sitio da nuca onde a sabia abandonar-se ao sabor do prazer.Ela entregou-se-lhe , não sem antes opôr-se às suas investidas.Lutaram em tensão, em provocação, em selvagem desalinho de conhecimentos de corpos suados na noite quente.A loucura dominou-os.

Acordou e sentiu-se excitado com a ideia de a procurar...

“You only lie to two people in your life, your girlfriend and the police. Everybody else you tell the truth to.”
— Jack Nicholson

O momento...

Levantou os olhos num impulso na tentativa de os desviar da realidade.Estava ali, não havia dúvida.Havia montagens,pensou ela,mas aquela foto era real,até podia ver o rosto risonho e doce que o denunciava .A desconhecida,que talvez até nem o fôsse,não lhe interessava.Estava no seu direito, do momento vivido do faz-de-conta, ou de uma verdade esporádica.Tanto lhe interessava saber as suas razões,só lhe adivinhava os motivos da acção, mas o que lhe feria a visão e quase lhe atormentava a alma, era a descoberta de um sentimento pensado morto.O ciúme, esse vil arrepio que lhe trazia à memória as infidelidades.A traição.

Largou a foto como se o seu toque a queimasse.E foi quando levantou os olhos num impulso, para não mais olhar o que a deixava confusa,que reparou na parede branca, que lhe permitia desvendar sómente um pedaço de azul.O seu aliado, o azul.O céu colocado em cima do Mar.Tudo azul.Só a parede branca lhe tapava o que ela sabia.O seu refúgio.Pensou que um sorriso lhe tinha chegado levemente ao rosto.Sentiu-se protegida.O Mar tinha sido testemunha de outros vis momentos, mas só ele a compreendia,estava lá para ela, sempre.

Pensou em não o confrontar com aquele pedaço de papel que captou o momento.Nem queria saber os que lhe antecederam ou seguiram,deixava-a agoniada.Já conhecia in loco,infelizmente.Nem tolerou a hipótese da presunção de inocência.Os detalhes,eram reveladores.Decidiu-se dizer-lhe.

A noite foi incómoda, como a verdade.Pela manhã só lhe restava o consolo do Azul.