Sunday, September 03, 2006

Abandono

Fui acordada a meio da noite por um colega que precisava do meu auxílio.O convite agora era outro. Ainda a meio de sonhos causados pelas conversas da noite, levantei-me, bebi um copo de leite e saí.
Deparei-me com duas crianças nervosas pelo óbito anunciado da mãe. A doença maligna roubou-a aos miúdos. Agora estavam sós de progenitores. O pai tinham-no perdido nesta estúpida guerra sem fim com o país vizinho.Uma familiar tinha-os trazido para acompanharem a mãe.Coube-me a mim dar-lhes a notícia. Foi assim que pensou o meu colega. Proporcionar-lhes calma e uma nova visão da vida era missão minha. Why? Terei eu escrito na testa que também senti este abandono na pele?
Depois de quase duas horas passadas em tentativas de aproximação negadas pela violência dos choros, agarrei o mais pequeno que se abadonou num abraço apertado.O outro chegou-se a mim e agarrou-me o braço.Os choros não se ouviram mais, foram substituidos por uma lamúria ranhosa, babada .Nas faces do mais velho rolavam ainda lágrimas sentidas.O silêncio juntou-se a nós.Ficámos agarrados meios adormecidos até que me alertaram da hora.Uns olhos enormes castanhos escuros olharam-me como um pedido de "não me deixes", mas conformaram-se com a companhia da familiar que os levou. Sem sorrisos, só a comunhão desse sentimento de perda.
Olhei o braço. Estava negro. Estas são as nódoas que nenhum detergente badalado desfaz. Estas são as que mais me marcam. Este crescimento a que me sujeito diáriamente vai com toda a certeza tornar-me numa pessoa melhor.

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