Friday, September 08, 2006

É suposto alguém entender?

Estou longe, mas vou lendo as noticias de destaque pelo mundo. Não, não foi para saber o que passa para o exterior, em termos de verdades, ou omissões. Essas podem deixar-me zangada pela ausência de verdade, triste pela alteração dos factos, mas nunca intrigada.
Desta vez li algo que me fez pensar, e quando digo pensar, é mesmo ficar especada, reler para ver se o fiz correctamente e concluir a minha opinião . A noticia da austriaca que ao fim de oito anos de suposta reclusão , depois de sequestro por um tarado qualquer, consegue finalmente fugir para felicidade de familiares e conhecidos que a supunham talvez já morta deixou-me contente.Depois fui lendo e fiquei estupefacta. .O mundo assistiu com espanto a uma entrevista que quanto a mim nunca devia ter acontecido tão cedo, onde a victima de sequesto, aparenta uma calma desconcertante, um discurso inteligente, e uma visão do facto que deixa qualquer um sem palavras.
Li também a carta que supostamente escreveu antes da entrevista. Acreditem que fiquei de boca aberta com o que li.Não me pareceu escrita pelo punho de alguém que esteve sob o dominio de um louco. A visão de um pai distananciado por oito anos, não estava nas suas prioridades.
Infelizmente, já fui testemunha de lágimas envergonhadas de mulheres,ou de meninas da idade em que a Natascha desapareceu, e nunca sob qualquer pretexto, falaram do monstro com tal desenvoltura.E nenhuma esteve em cativeiro, mais que umas horas para consumar a violação.O terror, o ódio , o nojo, esteve sempre presente aquando dar a cara para que mais ninguem fosse victima da mesma humilhação, do mesmo crime.Vi mesmo desejo de vingança nos rostos de algumas.Das outras, as que nem sabemos, imaginamos que seja pela repulsa que não falam.
A manipulação deste sequestrador é mais original e descobre paixão em substituição do desejo de esquecer o horror? que tipo de crime é este em que ambos se sentam a ver televisão, andam em supermercados, convivem com a mãe do sujeito?
A menina cresceu com uma visão do mundo mostrada segundo a filosofia do sequestrador.Afinal até nem se iniciou no alcoól, tabaco e drogas. Afinal nem tudo foi mau. Partilharam a decoração do espaço de dimensões impensáveis, a que chamaram quarto.Ela insurgiu-se pela revelação televisiva de algo muito pessoal, o quarto. Dele, não sente ódio, talvez pena, talvez nem o consiga esquecer, não por ter sido violento, o que recusou, mas por ter feito parte da sua vida.Que desejo mórbido é este de pretender a casa onde passou oito anos que todos pensamos terem sido horrendos?Caso estranho é também ter querido aparecer em público(visto por milhões) não para denunciar um crime hediondo, mas para contar a sua história como se de estrela rock se tratasse. Não estou a ser demasiado dura não, nada faz sentido nesta história bizarra, onde nem o crime sexual praticado com alguma assiduidade não me pareceu suficientemente destroçador nesta relação victima-sequestrador.
Não auguro uma sanidade futura nesta rapariga que faz de uma couraça aparentando coragem, um facto digno de registo visual para audiências desejosas de explicações. A sua realidade será outra quando os seus dias voltarem à rotina diária e os demais a olharem como um caso raro de um crime sem qualificação.
Quero mostrar aqui a minha compreensão e solidariedade incondicional para todas as victimas de sequestro, violação, ou maus tratos.O que não consigo entender, é o folclore a que assisti à volta de uma rapariga que nem se apercebe do erro que cometeu em subvalorizar o que viveu.
Será que um dos programas favoritos de ambos era o Bigbrother?

1 Comments:

Blogger Snow said...

Também eu assisti a parte dessa entrevista enquanto via o noticiário de hoje.
Também eu me senti arrepiado.
A frieza das palavras daquela miuda, aquele olhar que passa o tempo a fugir, evitando o olhar de quem a questiona, a forma tão "coerente" com que explica o horro por que passou e, acima de tudo, a compreensão e "compaixão" com que fala do seu carrasco... é mto dificil de entender como o cérebro humano funciona em situações extremas como a que aquela jovem viveu durante todos estes anos.
Cada vez tenho mais "receio" de descobrir aquilo que um ser humano é capaz de fazer ao seu semelhante.

9/08/2006  

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